segunda-feira, 1 de julho de 2013

Dança do ventre mineira dá salto

Super feliz com o salto que a dança do ventre mineira deu hoje com o festival Shimmie/BH.




Primeiro, pela escolha do local: Museu Inimá de Paula.
Isso significa deslocar a dança do seu "habitat natural", ou seja, o teatro.
Significa aproximá-la do grande público que por vezes se vê, eu diria, desmotivado de ir até o teatro consumir dança, seja por falta de hábito ou pela má localização de alguns dos teatros que recebem este tipo de evento na cidade.
E trouxeram um festival de dança do ventre - que tem público restrito e bastante específico- para um espaço próprio para a apreciação da arte como um todo, que é o museu; abrindo as portas para parentes e amigos, mas para o transeunte que passa por ali e entra pela curiosidade de ver um museu aberto com música árabe tocando, e  mesmo o próprio frequentador de museus. Em fim, deixa de ser um evento para consumidores de dança para ser um evento para consumidores do entretenimento e da arte - todos.
Nos museus as pessoas transitam o tempo todo, tem liberdade para elaborar seus comentários enquanto assistem ao que lhes está sendo mostrado, enquanto sentem o que lhes afeta. 
Um evento nessas proporções tira o lugar do observador passivo. Daquele que se senta, se cala e só assiste ao que está sendo apresentado à sua frente.
Trás este espectador pra dentro do espetáculo, tornando-o protagonista junto aos artistas em cena.

Ou seja, ali foi criada uma nova relação artista/público.

Os bailarinos dançaram em meio a obras de artistas já consagrados, que construíram todo um contexto artístico até aquele momento, e que seguiu sendo feito em tempo real. Assim como o público se mesclou aos bailarinos, desmistificando a imagem do artista intocável e especial, horizontalizando as relações, quebrando os protocolos, ampliando a noção do fazer artístico tão provinciana em Belo Horizonte, na minha opinião.



Genial.

Uma gestação que se aproxima do fim...

Bancar um projeto completamente autoral é tarefa árdua.Requer auto enfrentamento, auto questionamento, autonomia, e muita coragem, descobri.Se por um lado parece fácil o fato de dizer em português claro "Isto é meu e é isto o que eu considero bom"; pelo outro é justamente o que mais dificulta.Quando um trabalho é totalmente seu, não há em quem "mais colocar a culpa"*, caso algo saia fora do planejado. Não há com quem dividir as angústias e dúvidas do processo e do caminho escolhido. Não há com quem dividir as certezas e os avanços deste mesmo processo e deste mesmo caminho. Há muitas armadilhas e a leitura de cada situação se torna extremamente complexa, perversa e nada sutil.Tudo se inicia e se encerra em você. Ou em mim, neste caso.Tornei-me veículo da arte em Metaplasia. Vivenciei o fazer artístico deixando que ela me dissesse qual o próximo passo; abdicando-me das minhas vaidades, dos meus vícios dançantes, do meu ego, e por vezes, da minha persona.É algo solitário. Mas é libertador.Eu, como libriana que às vezes me permito ser vivo oscilando entre os dois lados da balança: é difícil e é fácil, é angustiante e é gostoso, é solitário e é libertador, é isso e não é...Vivo em busca do equilíbrio. Ainda não fiquei parada em nenhum dos lados. E espero sinceramente que este dia não chegue. Porque percebi que é preciso estar em movimento para seguir com minhas pesquisas e suas descobertas. Encontrar um estado de relaxamento interno, mas que não é esse que se senta à sombra e espera a sorte chegar. Tampouco é o do operário obsessivo que de tanto fazer, não faz nada. O constante movimento da vida, o constante movimento de quem dança. Para mim, são iguais. Se parar, sucumbe. 


Falta pouco para parir este filho. Primeira etapa. Então entrarei na segunda parte desta história... criar este filho.


Até aqui digo que foi uma gestação típica, cheia de enjoos, de momentos de negação e aceitação, de momentos de desejos exóticos, cheia de idealizações, da construção dia-a-dia do enxoval, do quartinho, a escolha do nome que melhor represente a personalidade desse filhote, e muita, muita vontade de olhar para o rosto desta cria e dizer: Seja bem-vindo ao mundo, meu filho!


Priscila Patta 


METAPLASIA - mudança indesejável
estreia dias 5,6 e 7 de julho pelo programa OBSERVATÓRIO
no Espaço Ambiente, em BH
Com direção de Gabriel Zenlon
Uma produção da CÓDIGO MOVIMENTO agrupação artística


*pessoalmente, não creio em pecado, culpa e castigo.