quinta-feira, 11 de abril de 2013

Dança e arquitetura

Priscila Patta foi convidada por Camila Bastos, estudante de arquitetura da UFMG a participar do projeto CORPOREIDADES.

Assistam ao vídeo e deixem seus comentários.

http://vimeo.com/61686160

Qual é o código do SEU movimento?

METAPLASIA - mudança indesejável

Priscila Patta, diretora da Código Movimento está em fase de montagem do seu novo solo METAPLASIA-mudança indesejável.

 Metaplasia pode ser interpretado como uma tentativa do organismo de substituir um tipo celular exposto a um estresse a um tipo celular mais apto a suportá-lo. Embora leve ao surgimento de um epitélio mais apto ao ambiente hostil geralmente isto se dá às custas de perdas. Portanto, a metaplasia representa geralmente uma mudança indesejada.

Este solo trabalha com a metáfora das mudanças indesejáveis pelas quais passamos ao longo da vida, e sua importância na e para a construção da persona.






Priscila Patta fala um pouco sobre este processo. Confira:

PP - Desde a criação da Código Movimento agrupação artística venho investigando por conta própria qual é o código do meu movimento. E esta frase acabou virando o bordão da companhia. Me lembro de estar no Festival de Dança de Joinville no ano passado, e de uma pessoa ter me parado para perguntar se eu era a Priscila Patta. Eu disse que sim, e o bailarino em questão (não me lembro seu nome), respondeu: "Qual é o código do seu movimento?"
Isso me deu enorme alegria e orgulho também, porque significava que a CM já estava sendo percebida fora de Belo Horizonte. Recebo pedidos de bailarinos querendo trabalhar conosco ou mesmo estudar com a agrupação constantemente. Chegamos a dançar o ano passado na Funarte. Foi a nossa estreia. Um duo meu e do meu parceiro Vick Alves. 
Com a companhia começamos a montar nosso primeiro espetáculo. Porém, por falta de verba tivemos que suspender a criação. Deixamos o espetáculo "na gaveta" por enquanto porque entendemos que uma montagem requer investimento com ensaios diários, e tudo o que está por trás disso: transporte, alimentação, as horas trabalhadas, etc. Ao mesmo tempo tivemos a saída de Juçara Ferreira e o trio ficou desfalcado. Convidamos Alicia Nascimento para trabalhar conosco. Ela topou. Porém, um mês depois ela foi contratada pelo Mario Nascimento. O que nos deixou felizes. Ter um contrato hoje em dia é motivo de celebração. Entretanto, ficamos desfalcados de novo e, em comum acordo optamos por parar com a montagem até que tenhamos melhores condições para fazê-lo. Com o ano entrando, nossas agendas pessoais acabaram sendo preenchidas e não tivemos outra opção. 
Foi aí que decidi montar um solo. Eu estou em um momento onde tenho muita coisa pra falar e pra mostrar através da minha dança. Não posso deixar esse furacão passar sem ter produzido nada. Então comecei a conversar com algumas pessoas que estão sempre comigo sobre as minhas questões. Eu não estou satisfeita com o país onde vivo. Há muita coisa boa aqui, temos algumas vantagens em relação a outros países latino-americanos, no que diz respeito a produção artística, e todo aquele papo que já sabemos de país do futuro, etc. Mas a verdade é que não está tudo tão bem assim. Os serviços públicos são ineficazes, não há segurança, as oportunidades de trabalho na minha área ainda são restritas, as Leis de Incentivo são falhas, tendenciosas, repetitivas, tem a questão da mulher e essa briga estúpida pela igualdade de direitos misturada à banalização da nossa imagem permitida pelas próprias mulheres, e mais um monte de coisas.
Mas eu não queria falar dessas questões como uma militante ou como alguém que aponta o dedo, afronta bravamente e pronto. Eu precisava também descobrir uma nova forma minha de perceber e de elaborar todas essas questões e dizê-las através de um corpo novo também. Uma das demandas que levei ao meu orientador (Gabriel Zenlon) foi que eu não queria a dança dançada. Claro que isso vai aparecer em um momento ou outro do espetáculo. Mas a questão é que não quero iniciar o processo de montagem pelo movimento dançado, coreografado; mas por outros meios - que ainda estamos descobrindo. Daí, Gabriel me trouxe algumas questões, propôs experimentos que traziam a memória à tona. E ele diz que a memória é também aquilo que eu não lembro. Isso mexeu comigo porque eu não entendia direito como isso funcionava. Mas a partir desse resgate de memórias é que começamos a levantar material para o espetáculo e acabei chegando ao seu título. 




Eu li este nome no meu exame ginecológico, achei interessantíssimo, fui pesquisar e bingo! Mudanças indesejáveis (a forma como resumimos o significado de metaplasia) é exatamente o cerne deste trabalho. Eu vou fazer 30 anos agora e sinto que eixos estão se modificando em mim novamente. Eu estou mais questionadora, mais curiosa, entendendo a dança que o meu corpo faz e a dança que a minha cabeça quer fazer. Eu estou aprendendo a decodificar-me, estou parando de sofrer com algumas questões, como por exemplo a de não ter perfil para dançar em companhia. Antes da Código Movimento eu via o mercado da seguinte forma: você estuda dança e vai dançar em companhia e/ou dar aulas. Se você tiver um curso superior, então você pode seguir pelo ramo das pesquisas, se não, você pode viver de solos. Resumindo, claro. Eu me via de forma restrita e via a minha arte dessa forma também. Só que eu sou bastante indisciplinada para dançar em companhias. Meu corpo não é tecnicamente bem treinado. Nas últimas audições que prestei, saí finalista. Mas nunca ganhava a vaga. Ia bem em todas as provas, menos nas técnicas. Meu corpo nunca entendeu o balé clássico. Eu faço muito bem tudo o que for ondulado, lânguido, também aquilo que exija força física. Então eu percebi que precisava entender realmente que dança é essa que o meu corpo produz e como ela pode ser interessante e útil. O trabalho do Gabriel neste solo é o de fazer esse assunto que por enquanto é meu virar algo de interesse universal, já que todos vivemos as mesmas questões. Todo mundo estuda, tem problemas familiares,conflitos afetivos, trabalha, perde o emprego, vive uma crise existencial e por aí vai. 
O que posso dizer mais é que estou realizada. Estou grávida deste solo. Eu estou completamente mergulhada neste processo e gostando do filho que estou gerando. A estreia será em julho, em Belo Horizonte. Não vejo a hora!!!



Entrevista com MARCIO MANSUR

Na segunda entrevista  da nossa coluna, seguimos com os homens que representam o cenário das danças árabes no Brasil.
Desta vez, o coordenador ao Arte Oriente em Cena, Marcio Mansur, conversa conosco.




 Confira:


1 - Com qual folclore árabe você trabalha, Márcio? Como você o descreveria?

Trabalho com muitos tipos, entre eles o Egípcio, minha especialidade, e o Libanês.
Quando se trata de folclore é muito difícil descrevê-los, pois cada um tem sua essência e forma de ser trabalhada.

2 - De que forma você, bailarino de danças folclóricas árabes, pode conduzir sua formação técnica?

Vejo da seguinte forma, mesmo que trabalhando o folclore não podemos perder regras básicas de qualquer modalidade de dança, um giro sempre vai ser um giro, um salto vai utilizar a mesma técnica de impulsão e músculos.
Então aulas de Ballet ou contemporâneo, ou qualquer outra modalidade que tenha um sistema acadêmico ajuda muito, em questão de postura, linha e até mesmo práticas para desenhos coreográficos.
Posso citar uma fonte do que estou falando, como Mahmoud Reda e Caracalla que são dois grandes grupos da dança Árabe que levam a base da dança clássica em suas apresentações voltadas para palco.

3 - Como você percebe os festivais e/ou mostras competitivas para as danças árabes?

Percebo um grande crescimento. Há oito anos atrás não tínhamos muitos, o mais conhecido seria o Mercado Persa, aqui em São Paulo.
Um detalhe importante que vejo em alguns lugares quando se trata do controle das categorias. Está muito misturado, então fica estranho ver algo em categorias que não são para o tipo certo de dança. Com o grande número de informações que temos hoje, acho que estamos nos descuidando um pouco do que aprendemos em sala de aula com os vídeos disponíveis na internet.
As competições sempre são válidas. Somos seres humanos independente da profissão e a competitividade sempre vai existir, muitos para uns, poucos para alguns, ou simplesmente nada para outros, mas no final é uma forma de estudo também.


4 - Dança é?

Estado de espírito, onde podemos nos transportar para onde bem queremos independentemente do que somos.

5- Qual é o código do seu movimento?

Força, corpo e técnica.
Nada disso funciona, se não tivermos SENTIMENTO.
Então dance com a ALMA!